2 de setembro de 2012

A Teologia da IECLB.



Eu muitas vezes fui xingado por membros de direita das comunidades e por colegas por defender a Teologia da IECLB como quem não ama esta Igreja e que faz o que não deve. Coloco aqui extratos de documentos da IECLB os quais revelam a teologia da IECLB. Infelizmente esta teologia oficial de nossa Igreja acabou sendo apenas, em boa parte, papel com letra morta na prática pela Igreja afora, pois a igreja se introverteu e não mais se entende, na prática, como inserida nas lutas do povo brasileiro pelo direito e pela justiça (com suas devidas e raras exceções) e se conformou, na prática, com este século.

Minha seleção de nossa teologia quer revelar o que normalmente estamos esquecendo.

Bom é ler todos os documentos. Eu tenho catalogados mais de 70 textos em 149 páginas de A4, deve haver mais, pois os dois PAMIs não estão incluídos na minha lista. Se alguém quiser eu envio o arquivo.

Para discutirmos um Projeto para a nossa Igreja a discussão tem que passar pela teologia oficial da IECLB.



No texto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB – 2004 a Igreja coloca quais os documentos que dão a teologia oficial da Igreja: (documentos desconhecidos pela maioria dos/as obreiros/as)

Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora em nível descendente de importância, são:

a) os documentos normativos (Constituição, Regimento Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento Jurídico-Doutrinário – OJD);

b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI, A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);

c) manifestos e posicionamentos;

d) declarações conciliares;

e) cartas pastorais da Direção da Igreja.

Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a feição oficial da IECLB.





Qual a Teologia da IECLB?

Começo pelo nome IECLB cuja explicação foi escrita pelo P. Dohms:

A teologia oficial começa com o nome da própria IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O nome IECLB é um programa:

IGREJA – um povo que, chamado por Deus, se reúne em uma fé, celebra o culto e expressa sua vida em comunhão com Deus e serviço ao próximo; EVANGÉLICA – o fundamento, a fonte e a norma crítica da igreja é o Evangelho de Jesus Cristo; DE CONFISSÃO – a fé da comunidade cristã é testemunhada e vivida diante dos homens e do mundo; LUTERANA – segundo Lutero, o luteranismo em si é desinteressante, mas em espírito ecumênico cremos que há uma só igreja de Jesus Cristo, que se renova pelo evangelho gratuito, aceito em fé para uma vida em fidelidade e amor; NO BRASIL – cada igreja tem um lugar específico de vivência e testemunho. O Brasil é marcado por pluriformidade religiosa, diversidade racial, contrastes sociais, injustiças, crises políticas e de desenvolvimento.



Quando de seu primeiro concílio geral, ocorrido em 1950, em São Leopoldo, a Federação Sinodal expressaria seus planos e sua auto-compreensão nas palavras:

“A Federação Sinodal é Igreja de Jesus Cristo no Brasil em todas as conseqüências que daí resultarem para a pregação do Evangelho neste país e a co-responsabilidade para a formação da vida política, cultural e econômica de seu povo.

Esta Igreja é confessionalmente determinada pela Confissão de Augsburgo e Pequeno Catecismo de Luther, pertence à família das Igrejas moldadas pela Reforma de Martin Luther, e quando adotará em lugar de “Federação Sinodal” a denominação de Igreja, o que esperamos para breve, exprimi-lo-á nesta mesma denominação.

Como Igreja assim determinada confessionalmente a Federação Sinodal se encontra na comunhão das Igrejas representadas no Conselho Ecumênico, as quais admitem o Evangelho de Jesus Cristo, que nos transmite a Sagrada Escritura como única regra diretriz de sua obra evangélica e de sua doutrina”.



A CONSTITUIÇÃO DA IECLB em seu TÍTULO II que fala dos DO FUNDAMENTO E DOS OBJETIVOS diz:

Art. 5º - A IECLB tem como fundamento o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, confessa sua fé no Senhor da una, santa, universal e apostólica Igreja.

§ 1o - Os credos da Igreja Antiga, a Confissão de Augsburgo (“Confessio Augustana”) inalterada e o Catecismo Menor de Martim Lutero constituem expressão da fé confessada pela IECLB.

§ 2o - A natureza ecumênica da IECLB se expressa pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.

Art. 6º - Constituem objetivos fundamentais da IECLB, além do disposto no art. 3o desta Constituição:

I - fortalecer e aprofundar a comunhão entre as Comunidades em sua ação evangelizadora;

II - zelar pela unidade na vida eclesiástica, no testemunho e na pura pregação da Palavra;

III - promover o ensino, a missão e a diaconia;

IV - proporcionar o aprofundamento teológico e o crescimento espiritual nas Comunidades;

V - propiciar condições para que os membros das Comunidades possam exercitar seus dons na missão da Igreja, na perspectiva do sacerdócio geral de todos os crentes e do ministério compartilhado;

VI - zelar pela formação em todos os níveis para seus diferentes campos de trabalho, de obreiros e colaboradores, que poderão ser de tempo integral, parcial ou de trabalho voluntário;

VII - zelar pela ordem e disciplina evangélica a serem observadas por suas Comunidades, seus membros, obreiros e instituições, de acordo com a presente Constituição e outros documentos normativos da Igreja.



Regimento Interno da IECLB Art.2° - "A Comunidade, que é a congregação local dos membros da Igreja de Jesus Cristo, em torno de um centro comum de culto, tem as seguintes características:

I - na Comunidade a Palavra de Deus é anunciada puramente e os sacramentos são administrados retamente;

II - a Comunidade é a base de trabalho da IECLB, e ela exercita a vida cristã e a missão da Igreja através do anúncio da Palavra, da exortação ao arrependimento, da mensagem do perdão e do chamado à prática do amor, da justiça, da solidariedade e do serviço ao próximo e à sociedade;

III - a Comunidade participa do corpo universal do povo de Deus, em comunhão com as comunidades congregadas na IECLB, e busca o convívio ecumênico com outras comunidades e Igrejas que confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

Parágrafo único - Onde isto acontece, realizar-se-á a promessa de que o próprio Senhor está junto à Comunidade, operando a fé pelo Espírito Santo e chamando pessoas ao seu serviço, quando lhe aprouver."



Manifesto de Curitiba - 1970 (extratos)

1.1 - A mensagem da Igreja cristã visa à salvação do homem salvação que transcende as possibilidades humanas, inclusive as políticas. É mensagem de Deus - não deste mundo. Mas ela é destinada a este mundo e quer testemunhar Jesus Cristo como Senhor e Salvador do mundo. Por isso a Igreja não pode viver uma existência sectária, guardando para si mesma a mensagem que lhe foi confiada. Ela tem o ministério de testemunhar a palavra de Deus, ministério do qual ela não se poderá esquivar, a não ser pelo preço da desobediência para com seu Senhor.

A mensagem da Igreja sempre é dirigida ao homem como um todo, não só à sua “alma”. Por isso, ela terá conseqüências e implicações em toda a esfera de sua vivência - inclusive física, cultural, social, econômica e política. Não tenderá apenas a regular as relações entre cristãos, mas visará igualmente ao diálogo com outros cidadãos ou agrupamentos, sobre todas as questões relacionadas com o bem-comum.

1.2 - A mensagem “pública” da Igreja cristã, no que se refere aos problemas do mundo, não poderá ser divorciada do seu testemunho “interno”, já que este implica naquela. Assim, a Igreja não pode condicionar seu testemunho público aos interesses de ideologias políticas momentaneamente em evidência, ou a grupos e facções que aspiram ou mantêm o poder. Em seu testemunho público, não poderá ela usar métodos incompatíveis com o Evangelho.

1.5 - Em conseqüência da pregação pública da Igreja poderão surgir tensões com autoridades governamentais, seja por equívocos humanos, seja por razões de caráter fundamental. A Igreja, em tais casos, não procurará contestar o poder do Estado, como se ela fosse um partido político, mas proclamará o poder de Cristo. Onde ela sentir-se compelida a contrariar medidas governamentais, antes de tomar qualquer atitude pública, procurará dialogar com as autoridades respectivas. Em todos os casos agirá sem intuitos demagógicos - deixando claro que ela se sabe chamada a advogar em prol de todos os homens que sofrem.

2.1 - O caráter do culto cristão

A Igreja entende que o culto, sendo o evento central da vida do cristão, através do qual se nutre sua vida espiritual, deverá ter resguardado o seu caráter de serviço a Deus, de adoração, de comunhão cristã e de diálogo com Deus. Jesus Cristo é o único Senhor do culto cristão.

O culto terá conseqüências políticas, por despertar responsabilidade política, mas não deverá ser usado como meio para favorecer correntes políticas determinadas. Pátria e governo serão objetos de intercessão da comunidade reunida para que possam promover justiça e paz entre os homens, e os fiéis darão graças a seu Senhor por estas preciosas dádivas. A pátria será honrada e amada; seus símbolos serão respeitados e usados com orgulho cívico, no sentido mais legítimo, mas o cristão não poderá falar da pátria em categorias divinizadoras.

2.2 - Ensino cristão e educação moral e cívica

Embora numa sociedade pluralista e multiconfessional, como a brasileira, o Estado, compreensivelmente, esteja interessado em evitar uma orientação sectária no campo educacional, julgamos ser indispensável que nas escolas seja mantido, inequivocamente, o ensino cristão. Consideramos ser a educação moral e cívica uma matéria necessária para a formação do cidadão, porém não a julgamos uma matéria que possa ou deva suplantar o ensino cristão. O ensino moral e cívico, com bases ideológicas declaradas, para muitos cristãos deixou imprecisos ou limites entre a esfera da Igreja e a do Estado.

2.3 - Direitos humanos

Numerosos cristãos sentem-se perturbados pelo fluxo de notícias alarmantes sobre práticas desumanas que estariam ocorrendo em nosso País, com relação principalmente ao tratamento de presos políticos, donde surge uma atmosfera de intranquilidade, agravada com a carência de informações precisas e objetivas. Embora as notícias veiculadas no exterior, frequentemente evidenciem caráter tendencioso, e embora órgãos oficiais do País seguidamente tenham afirmado a improcedência das mesmas, permanece um clima de intranquilidade, em virtude das informações não desmentidas da imprensa do País, sobre casos onde se inculcam órgãos policiais de terem empregados métodos desumanos - seja no tratamento de presos comuns, seja de terroristas políticos, ou seja de suspeitos de atividades subversivas.

Entendemos mesmo, como Igreja, que nem situações excepcionais podem justificar práticas que violam os direitos humanos.



Manifesto Chapada dos Guimarães - 2000 (extratos)

A vida da humanidade está ameaçada. Um grande mal ocupa todos os espaços, e há poderes querendo assumir o papel de Deus. Quem, porém, cede a essa tentação e é detentor de poder, procura despir-se de sua condição de criatura, para submeter homens e mulheres, jovens e crianças, a natureza e o mundo a seus próprios interesses. O fruto dessa auto-suficiência incorpora-se num verdadeiro ídolo – designado na Escritura como poder do dinheiro (“Mâmon”). Esse mesmo ídolo, adorado e venerado, é o fundamento do sistema sócio-econômico-político hegemônico no mundo de hoje. Somos testemunhas de que esse sistema requer sacrifícios, faz suas vítimas e promove dor, sofrimento e morte.

Conforme o testemunho bíblico e o Reformador Martim Lutero, a fé jamais ficará ociosa. Por conseguinte, os cristãos de confissão luterana são chamados a:

Renegar a ideologia que dá suporte à acumulação e concentração de riqueza em benefício de minorias e em detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da manutenção da boa criação de Deus.

Renegar a adoração do capital e da religião do consumo como definidora do sentido da vida.

Renegar modelos econômicos que desconsideram a necessidade e urgência de um desenvolvimento auto-sustentável que preserva a vida no planeta.

Renegar todas as formas de individualismo voltado tão-somente para a auto-satisfação, desconsiderando a importância das relações coletivas e comunitárias, bem como o serviço mútuo e a solidariedade.

Renegar toda e qualquer forma de competição proselitista entre as igrejas, mas afirmar a necessidade e as possibilidades da cooperação ecumênica.

Renegar todo tipo de intolerância e desrespeito para com pessoas de orientação religiosa distinta e diferente da cristã, mas valorizar todos os empreendimentos em favor da paz e da vida.



Nossa Responsabilidade Social (extratos)

1. Nossa Omissão

A fé em Cristo leva necessariamente à ação em favor do próximo. Sempre que essa ação faltar, na verdade há falta de fé e desobediência à vontade de Deus. Por isso, ao dirigirmos esta palavra às comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), apontando para a responsabilidade social que nos cabe como cristãos, devemos, antes de mais nada, confessar que muito temos pecado diante do Senhor, pela nossa omissão. Vezes sem conta aconteceu que Jesus, passando fome, não lhe demos de comer; estando Jesus com sede não lhe demos de beber; sendo Jesus forasteiro não o hospedamos; estando Jesus nu, não o vestimos; estando Jesus enfermo, não o visitamos; estando Jesus preso, não fomos vê-lo ( Mt. 25.35-36).

Nós assim nos omitimos no âmbito das nossas comunidades, onde fechamos os olhos, diante do que se passa ao redor de nossos templos. Nós assim nos omitimos em âmbito nacional, fechando os olhos diante das injustiças sofridas por compatriotas nossos. Nós assim nos omitimos diante do sofrimento de povos e indíviduos em todo o mundo. Assim agindo, tornamo-nos desobedientes e negamos aquele que confessamos como nosso Senhor. Cabe-nos, pois como cristãos, como comunidade e como Igreja reconhecer a nossa culpa, arrepender-nos e pedir perdão, expressando tudo isto numa ação eficaz em favor de Jesus faminto, sedento, forasteiro, nu, enfermo e preso, ao nosso redor.

(...) Contudo, onde a consciência acusa, o Evangelho levanta a voz profética para chamar ao arrependimento, à libertação e à mudança radical (Mc 1.15). O Evangelho é o próprio Jesus Cristo que sofreu o mundo caído para libertar o homem pecador (Lc 4.18-21). Em sua cruz confessamos a ação de Deus (I Cor 1.18-25). Por isso também hoje não conseguimos ver Deus no progresso, mas sim naqueles que são por ele triturados não no poder, mas naqueles que são por ele abatidos, não no dinheiro, mas naqueles que não tem como comprar o elementar para suas vidas (Mc 8.34-38). Deus simultaneamente padece e liberta ainda hoje. Assim a neutralidade se nos torna impossível (Rm 12.9-21). Somos chamados a tomar partido: Queremos subir na vida ou descer à cruz de nosso semelhante? Queremos nos unir ao círculo dos interessados em si mesmo ou dar as mãos para viver o amor de Cristo?

A renúncia a nós mesmos e o discipulado de Cristo nos são possíveis quando acatamos esse mesmo serviço de Deus na cruz, que nos arranca de nossa profunda insegurança e nos faz andar o caminho de Deus no mundo (I Jo 4.9-17). Assim colocamos toda a nossa capacidade, profissão, obra, posição, bens e vida a serviço de quem de nós necessita. Esse caminho da renúncia e da solidariedade é e será vitorioso. Isso confessamos como nossa esperança inabalável.

3. Realidade

Dentro desta ordem de reflexões, convidamos os membros das nossas comunidades a se deterem na análise dos seguintes aspectos:

- Deus pôs recursos da natureza à disposição de todos. Assim convidou o homem para com sua tecnologia dominar a natureza e pôr os recursos gerados serviço de todos. Contudo, constatamos em nosso país que tal princípio não se verifica. Os frutos de nosso processo de desenvolvimento - embora tenham levado alguns benefícios às classes sociais menos favorecidas - tendem a concentrar-se nas mãos de minorias privilegiadas, ...

- Nosso processo de desenvolvimento deveria preocupar-se em proporcionar oportunidades de emprego e de melhoria do padrão de vida para todos os que queiram trabalhar. Não obstante, apresentamos uma industrialização incapaz de absorver a numerosa mão-de-obra subempregada, nas regiões urbanas. Contamos igualmente com uma atividade agrária baseada numa estrutura de concentração de extensas áreas de terra nas mãos de poucos, pois 1,3% dos imóveis rurais detêm 48,9% da área total agricultável do país, impedindo aos que querem trabalhar na agricultura, de terem uma propriedade com tamanho adequado para obterem, com o seu uso, um sustento honesto...



“Discipulado Permanente - Catecumenato Permanente”

... Sendo mais do que uma questão de métodos e de organização, sendo também mais do que a preocupação com um determinado setor de trabalho na IECLB, Catecumenato Permanente, diz respeito à vida do cristão como discípulo e, à vida da comunidade na totalidade do seu ser, isto é, ao “Discipulado Permanente”.

1.1 - O cristão como discípulo

... Conseqüentemente os discípulos de Jesus não podem ser caracterizados apenas de alunos, estudantes ou aprendizes. Eles recebem mais do que ensinamento, eles recebem o perdão dos seus pecados, a liberdade, a esperança, eles recebem o Espírito Santo e a filiação divina, recebem novidade de vida, são feitos novas criaturas. A obra de Cristo determina o que são os seus discípulos.

... - O cristão é convocado a aprender a concreticidade do Evangelho. A mensagem salvífica se projeta para dentro de todos os setores da vida humana, ela possui conseqüências na esfera espiritual e corporal e tem por meta a salvação do homem todo, isto é, a eliminação e superação de todos os males que o aflige. A manifestação desta concreticidade do Evangelho exige coragem e intrepidez por parte dos discípulos.

... Discipulado permanente é um processo dinâmico que sem amplo apoio e sem participação criativa estará fadado a fracassar. Por esta razão, o primeiro objetivo consiste na busca de uma consciência geral no que diz respeito aos problemas, às chances e às tarefas do nosso discipulado hoje.

... 2.4 - Proceder a uma revisão crítica dos métodos do nosso trabalho quanto à sua contribuição ao discipulado permanente de todos os membros da IECLB. Aprendizagem cristã não fica restrita às aulas de religião, ao ensino confirmatório, a estudos bíblicos ou a outras promoções desta categoria. Também a prédica, a poimênica, enfim todos os tipos de trabalho na comunidade são fatores de aprendizagem por servirem, de uma forma ou outra para a edificação da comunidade e para o seu testemunho no mundo. O programa do discipulado permanente não pretende ser inovação no sentido de proclamar a abolição do que tem sido feito até agora para substituí-lo por algo absolutamente novo. Tão pouco se intenciona dar preferência a um ramo de trabalho, que seria a catequese, em detrimento de outros. Muito pelo contrário, o programa persegue o objetivo de examinar todas (!) as atividades da Igreja sob o critério decisivo da contribuição à vivência do discipulado hoje. O nosso trabalho favorece ou impede o surgimento de uma comunidade adulta?



Mensagem de Natal do Conselho Diretor da IECLB – 1978

Nos últimos anos ocorreram na sociedade brasileira profundas e dolorosas rupturas. Na intenção de garantir a segurança nacional, se tem submetido o País a leis de exceção. Sob a vigência de tais leis, muitos cidadãos sofreram perseguição, prisão, cassação ou banimento, sem a possibilidade de recorrer ao direito legítimo de defesa. Foram desencadeadas múltiplas formas de violência, culminando em seqüestros, torturas e até assassinatos. Suas vítimas ainda hoje suportam as conseqüências físicas, morais e profissionais dos sofrimentos vividos. Milhares de concidadãos estão impedidos de exercer sua cidadania, com todos os deveres e direitos dela decorrentes.

Neste Natal de 1978, conclamamos a todos: Juntemos as mãos e participemos intensamente na promoção da reconciliação da comunidade brasileira. Verdadeira reconciliação inclui uma anistia a todos os atingidos pelas leis de exceção. Empenhemo-nos, pois, por esta anistia que somente será completa se acompanhada da realização de outros anseios nacionais, tais como a revogação plena das leis de exceção, a restituição integral da liberdade e autonomia de ação aos poderes legislativo e judiciário, a observância dos direitos humanos e o restabelecimento do estado de direito.



Declaração da IECLB nos 180 anos de suas primeiras comunidades – 2004

Nossa culpa

Embora os humildes imigrantes de então não pudessem ter consciência dessa realidade, o fato é que com sua chegada ao Brasil vieram a ocupar, em diversos sentidos, um lugar social que poderia e deveria ter sido próprio das comunidades indígenas, detentoras originárias destas terras, e das comunidades negras do Brasil Colonial e Imperial escravocrata. É emblemático que as primeiras famílias de imigrantes alemães, chegadas a São Leopoldo, tenham sido alojadas numa antiga feitoria de escravos.

Ainda que involuntariamente, as comunidades, que se desenvolveram, são, portanto, parte da história de injustiça e desequilíbrio social de nosso país. E, apesar das discriminações que elas próprias sofreram, as comunidades de imigrantes, comparadas com as indígenas e negras, obtiveram um lugar privilegiado na sociedade brasileira. Projetos de colonização patrocinados pelo Estado concederam ou venderam terras habitadas por indígenas a agricultores, constituindo-se este fato na causa primeira de situações agudas de tensão e conflito ainda hoje existentes entre indígenas e agricultores, entre eles também membros da IECLB.

Devemos reconhecer igualmente que em muitos lugares surgiu e prosperou entre membros da Igreja um sentimento de superioridade cultural sobre outras etnias, em particular a indígena e a afro. Somos ainda hoje vítimas e artífices de preconceitos contra quem é diferente. Isso se faz sentir também nas novas áreas para as quais muitos de nossos membros têm sido levados pelo fluxo de migração interna. No ano em que a comunidade judaica comemora seus 100 anos de imigração ao estado do Rio Grande do Sul, reconhecemos com profundo pesar que no período em que imperou na Alemanha o nacionalsocialismo não fomos totalmente imunes a influências da ideologia da superioridade racial ariana.

Na vida de nossas comunidades, muitas vezes um tradicionalismo superficial se sobrepôs à necessidade de aprofundamento nas questões de fé. A Bíblia ficou relegada, em alto grau, apenas ao seu uso no culto e no ensino confirmatório, deixando de ser a fonte diária para a devoção em família. A tarefa espiritual e de evangelização tem sido preponderantemente delegada aos pastores e às pastoras, deixando de ser responsabilidade da própria comunidade e de todos os fiéis como integrantes do sacerdócio geral de todas as pessoas que crêem.

Em tudo isso, carecemos do perdão de Deus e daquelas pessoas a quem temos ofendido.

... Afirmamos a necessidade de respeitar integralmente a diversidade cultural, étnica e religiosa. Comprometemo-nos, particularmente, em:

- empenhar-nos em favor da paz, da justiça e da integridade de toda a criação;

- exercer, na vivência comunitária, na missão e na diaconia, uma prática em favor da inclusão social, superando toda espécie de exclusões;

- assumir com mais intensidade nossa responsabilidade pública, contribuindo para fazer do Brasil um país mais justo e mais solidário, superando a pobreza e a miséria;

- conjugar nosso envolvimento ecumênico com nossa tarefa de missão, no sentido de proclamar com destemor as razões evangélicas da esperança que há em nós em id dos desafios que se nos apresentam em nossa realidade, concomitante com o pleno respeito à diversidade de opções religiosas.



Unidade: Contexto e Identidade da IECLB – 2004

2. Distinguimos diferentes dimensões, níveis e graus de comprometimento. Retomando o expresso na seção anterior, observamos que há uma unidade que é essencial e deve ser permanente, aquela que temos na compreensão comum do Evangelho como boa notícia de que, em Cristo, Deus nos redimiu, de uma vez por todas, exclusivamente por graça, redenção que recebemos em nossas vidas mediante a fé em Cristo, através da Palavra e dos Sacramentos, independente de nossas obras e sem mérito de nossa parte, mas por obra do Espírito Santo. Por isso, é essencial e permanente nossa unidade numa compreensão comum acerca do evangelho e dos sacramentos. Divergências nesses assuntos não podem ser aceitas como “normais” no seio da Igreja, muito menos como expressão de benéfica diversidade no corpo de Cristo. Devem ser superadas mediante perseverante diálogo teológico e pastoral ou, em casos mais agudos, mediante a disciplina eclesial. Podemos dizer que esta é a unidade interior da Igreja, sobre a qual repousa a unidade exterior, que sempre será fictícia se não houver aquela unidade evangélica interior. Não bastam declarações de se ser IECLB; “ser IECLB” tem um irrenunciável conteúdo confessional.

... 4. Uma menção especial deve ser dada a decisões conciliares que ordenam a vida da Igreja. Elas geralmente são fruto de processos longos de reflexão, consulta e deliberação nas mais diversas instâncias da Igreja. Já por isso se revestem de importância eclesial. Mesmo assim, numa Igreja da Reforma, decisões conciliares não são infalíveis e, portanto, sempre são reformáveis e, assim, passíveis de reflexões e debates teológicos no interior da Igreja. Mas elas expressam o sentir da Igreja como “comunidade de comunidades”, num determinado tempo e lugar. Nessa qualidade, elas devem ser observadas, enquanto estejam em vigor e não tenham sido alteradas pelas instâncias constituídas.

... 6. Quais as expressões de unidade que podemos discernir na IECLB e que devemos observar ou fortalecer?

6.1. Escritos.

A Constituição da IECLB (art. 5.o) coloca de maneira clara a base confessional da Igreja: em primeiro lugar, as Sagradas Escrituras, compostas do Antigo e Novo Testamentos, seguidas das confissões dos credos da Igreja Antiga, e, como confissões da Reforma, a Confissão de Augsburgo e o Catecismo Menor de Lutero. A Constituição também afirma a natureza ecumênica da IECLB, como vínculo de fé com as igrejas do mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.

Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora em nível descendente de importância, são:

a) os documentos normativos (Constituição, Regimento Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento Jurídico-Doutrinário – OJD);

b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI, A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);

c) manifestos e posicionamentos;

d) declarações conciliares;

e) cartas pastorais da Direção da Igreja.

Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a feição oficial da IECLB.



Prioridades da IECLB (1979-1982)

1.Unidade na Pluralidade

2.Evangelização

3.Índio

4.Reforma Agrária

5.Contribuição Proporcional

Na reedição destas prioridades da próxima gestão a expressão e prioridade Reforma Agrária desapareceu, sendo substituído por Comunidade Missionária na Realidade Rural e Urbana (não é tão agressivo, polêmico, inconveniente e é mais ampla, também mais soft! Mesmo que estas duas realidades não tenham nada de soft. Na realidade rural a UDR também tem vez, afinal, são filhos de Deus também. Não são?) e em 87-92 a prioridade Índio sumiu.

Prioridades da IECLB (1983-1986):

1.Confissão evangélico-luterana

2.Comunidade missionária na realidade rural e urbana

3.Educação

4.Índio

5.Contribuição Proporcional

Prioridades da IECLB (1987-1992):

1.Nossa identidade luterana

2.Edificar comunidade na área rural e urbana

3.Justiça e responsabilidade social

Prioridade da IECLB (1992-1995):

1.Igreja solidária

Vemos aqui que as prioridades gradativamente, com o passar dos anos, foram amenizadas e os temas conflituosos foram sendo substituídos por expressões mais amplas, mas mais vagas também, apesar do aumento dos conflitos de classe que ocorreram no país: luta pela terra dos sem terra e povos indígenas, greves gerais convocadas pelas centrais sindicais, saques em supermercados, luta contra as barragens, crise na agricultura, fortalecimento do movimento negro e das mulheres, etc.



Concílio Geral de 1982. Mensagem às Comunidades:

...Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:

- realizar campanha de ampla informação e conscientização dos problemas agrários e urbanos:

- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:

- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.

Conclusões do Concílio de 1982

Apoio engajado e consciente ao pequeno agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:

a) Movimentos Populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.

b) Projeto de CAPA (Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da ecologia e ambiente natural

c) Movimentos no espírito de não violência

d) As prioridades de ação da IECLB e confessionalidade luterana

Concílio de 1984. Mensagem às Comunidades:

... Como Igreja de Jesus Cristo no Brasil, comprometida com o Evangelho, devemos nos colocar ao lado de todas aquelas forças da sociedade que possibilitam vida para todos, entre outras, os sindicatos, as cooperativas, os movimentos de bairros, grupos de base.

Concílio de 1986. Mensagem às Comunidades:

Estamos convencidos de que os frutos de uma tal atitude, motivada pela fé no Senhor Jesus Cristo, contribuirão para a transformação de nossa sociedade e mostrar-se-ão concretamente num apoio mais comprometido aos sem terra e casa, aos índios, aos negros, às mulheres, aos operários e aos pequenos agricultores, mostrar-se-ão em sinais concretos de justiça e de promoção de vida plena entre nós e no mundo que nos cerca.

O 13° Concílio Regional da RE III aprovou como proposta missionária na Terceira Região Eclesiástica:

1. Celebração Comunitária na ótica da Comunidade solidária;

2. Integração do Movimento Popular na concepção do trabalho missionário;

3. Formação bíblica na ótica da leitura popular.



Moção aprovada pela 8ª Assembléia Sinodal do Sínodo Uruguai

A 8ª Assembléia Sinodal propõe a criação da Pastoral da Cidadania que será integrada por membros, obreiras e obreiros da IECLB e se ocupará do estudo da Bíblia e da Realidade do povo, da defesa dos direitos do povo, da busca de assessoria teológica, econômica e jurídica, do trabalho direto com as famílias envolvidas que tem seus direitos feridos ou ameaçados e da organização destas famílias. A atuação da Pastoral da Cidadania acontecerá a nível de comunidade, paróquia e sínodo, devendo estender convênios e contatos com outros sínodos da IECLB e movimentos populares. Para o êxito da Pastoral da Cidadania o Sínodo, as Comunidades e as Paróquias da IECLB deverão constituir esta Pastoral em seu âmbito e colocar gratuitamente suas dependências físicas (pavilhões, salas, igrejas) à disposição para reuniões e do trabalho da Pastoral da Cidadania e dos movimentos sociais com os quais a Pastoral da Cidadania trabalha.



Povo Luterano

O assunto principal desta minha carta pastoral que, na verdade, já deveria ter sido escrita bem antes, é um problema sentido em nossa Igreja com crescente preocupação. Ainda não sabemos realmente como trabalhá-lo. É que gradativamente se acentua, também em nossa Igreja, a diferença entre membros em melhores e outros em piores condições de vida. O generalizado empobrecimento do povo brasileiro, do qual escapa apenas uma minoria, mostra seus nefastos efeitos em todos os sentido e dificulta o trabalho da IECLB e de suas comunidades. São atingidos especialmente os pequenos agricultores, os operários, mas também o pequeno empresário, comerciante e outros. A época em que os membros da IECLB apresentavam mais ou menos o mesmo nível de vida e eram raros os pobres entre eles, estes tempos infelizmente passaram. A situação social dos evangélicos luteranos se diversificou e o número de membros em situação econômica precária aumentou.

Que nos exige esta situação? É claro que o evangelho não permanece alheio a ela. Somos desafiados em nossa fé e em nosso amor. Que fazer?

1. Em primeiro lugar parece-me que devemos ver o que está realmente acontecendo em nosso País. Em outras épocas, talvez, ser pobre fosse culpa própria, resultado de irresponsabilidade, acomodação, preguiça.

Mas isto hoje é diferente. Vivemos em tempos em que o trabalho vale pouco. Somente quem tem é que progride, ou seja quem possui dinheiro, bens ou conhecimentos. A grande maioria dos pobres é vítima deste sistema. Não lhes dá chances. É importante ver isto para não fazermos juízos errados sobre quem empobreceu. Nossa política condena o pobre a permanecer pobre. Basta pensar na política salarial e de preços.

2. Em segundo lugar, acho que esta situação exige da comunidade cristã o empenho pela justiça. Os desequilíbrios sociais em nosso país são enormes. E são perigosos, porque provocam violência cada vez maior.



Posicionamento da IECLB sobre bioética

... III - A vida como mercadoria?

7. Uma certa lógica comercial transformou os seres vivos e o próprio ser humano em objeto, cujo valor é regulado pela oferta e pela procura do mercado. O mercado aliado à ciência (e vice-versa) arroga-se o direito de agir como um deus. Entretanto, o mercado somente existe por causa dos recursos naturais. Sem os recursos naturais não há produtos para compra e venda.

8. No entanto, com freqüência o mercado nos ilude. Ele nos diz que não estamos comprando produtos que vieram de recursos naturais. Induz-nos a pensar que compramos algo que tem vida própria, e que nos oferece a promessa de realização, de felicidade. É precisamente esta idéia de que podemos comprar felicidade ao comprar bens de consumo que é profundamente predatória, destruidora do meio ambiente.

... IV - A redenção da vida: como a bioética pode nos ajudar?

A – A vida digna: uma perspectiva teológica

12. Numa perspectiva teológica a vida tem uma dignidade inviolável, porque provém de Deus. Assim é necessário recuperar o temor diante da vida. Albert Schweitzer, importante teólogo protestante e médico, tinha a consciência de que todas as formas de vida devem ser vistas sob a perspectiva do temor respeitoso. Sob a ótica evangélica, a vida não é propriedade, como quer o mercado, nem objeto, como pode supor a ciência, mas é dádiva de Deus. Este deve ser o ponto de partida para um agir responsável.

13. A Escritura aponta para a nossa responsabilidade diante de Deus, da criação e do ser humano. É necessário garantir a existência da criação para as gerações futuras. Estamos geneticamente e historicamente ligados. Diante disso, a visão de que Deus ama o mundo na sua totalidade nos dá olhos que enxergam o mundo como o nosso próximo. Não somente o ser humano é nosso próximo, mas também os seres da criação o são. Nos relatos dos Evangelhos, Jesus Cristo, o Filho de Deus, é profundamente sensível para com os seres da criação e em especial para com os seres humanos.

B – Bioética: instrumento em prol da vida

14. A bioética prioriza a proteção da vida. Ela é uma disciplina acadêmica e um movimento da sociedade que propõe discutir as questões éticas em virtude dos avanços da ciência. A bioética não se preocupa somente com as questões médicas, mas com a sobrevivência do planeta e com o futuro da humanidade. Além destas preocupações, a bioética também aborda temas como a fome, a discriminação racial, o combate à violência e o combate à destruição do planeta. Para a igreja cristã, estes temas são muito pertinentes, pois a bioética, bem como a fé cristã, é favorável à vida, o bios. Ambos se preocupam com o agir correto e responsável diante da vida em todas as suas formas.



A IECLB às Portas do novo Milênio - 1999

... 1.3 – Destacam-se outras marcas decisivas na continuidade do processo de integração. Desde o “Manifesto de Curitiba”, em 1970, a Igreja passou a perceber com maior clareza a importância do contexto social e político, com vistas à sua missão. No tempo da ditadura agravou-se o desnível social. O êxodo rural e o galopante processo de urbanização provocaram uma acentuada expansão dos cinturões de miséria em torno dos centros urbanos. Grande número dos membros de nossas comunidades, até então pertencentes à classe média, começaram a empobrecer. Com o fim da ditadura e a volta ao estado democrático, deu-se também início ao processo de globalização, acompanhado do influxo e dos efeitos da informática.

Após a euforia inicial com a abertura de fronteiras e a aparente aproximação de pessoas e nações, começamos a perceber que a globalização, por enquanto, favorece apenas uma minoria, mas isola e marginaliza um número crescente de pessoas e povos. Ainda que o acesso a bens de consumo, em particular os industrializados, tenha sido facilitado, há um evidente deterioramento de todos os serviços sociais, como na educação, na saúde e na previdência. Embora a inflação tenha sido controlada, aumentaram a recessão, o desemprego, o endividamento interno e externo. Os mecanismos das relações de dependência se tornaram mais complexos e eficazes e a exclusão social é evidente.

1.4 - A teologia da libertação ajudou nossa Igreja a ensaiar a leitura contextualizada da Bíblia e a envolver-se com a causa da reforma agrária e os movimentos sociais. O Movimento Encontrão contribuiu para o avivamento de muitas comunidades, em particular dos leigos, e para que comunidades encontrassem, na leitura da Bíblia, na oração e nas reuniões, uma espiritualidade de cunho evangelical. O Catecumenato Permanente (Concílio Geral, Cachoeira do Sul, 1974), embora não tivesse uma continuidade direta nos programas da IECLB, contribuiu para criar em seu meio maior consciência do “sacerdócio geral de todos os crentes”. Tudo isso redundou em diferentes iniciativas de formação de líderes para todas as áreas de atividades comunitárias.

Tanto a teologia evangelical quanto a teologia da libertação leva¬ram a IECLB a um maior envolvimento ecumênico e fizeram-na reler sua tradição luterana. Na busca de sua identidade e sua con-tribuição específica, perguntou-se pelo lugar da confessionalidade luterana no contexto latino-americano. Assim, aprofundando seu compro¬misso ecumênico, já expresso pela filiação à FLM e ao CMI, a IECLB par-ticipou do processo de formação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e do Conselho Latino-Ameri¬cano de Igrejas (CLAI). Também pas¬sou a ter participação ativa em outros movimentos e entidades ecumênicas. O movimento Pastoral Popular Lute¬rana procura traduzir a atuação da IECLB e nossa confessionalidade para o nível popular.

... 2.9 - A doutrina da justificação liberta o cristão da preocupação com sua própria salvação. Essa lhe é assegu¬rada pela fé, que é fruto do Espírito Santo e nasce através da pregação do evangelho. Assim sendo, o crente está habilitado para dedicar-se, com seus dons, talentos, forças e todo seu ser, ao serviço da missão de Deus no mundo. Seu servir a Deus e ao próximo, no dia-a-dia da vida, é o verdadeiro culto a Deus (Rm 12.1ss.). Somos Igreja disposta ao diálogo ecumênico com todos os que estão comprometidos com a vida. Estamos abertos para compartilhar e celebrar culto a Deus com todos aqueles que confessam Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador (Atos 4.12; cf. também a Constituição da IECLB, Art. 5º, § 2º).



IECLB no Pluralismo Religioso - 2000

... 2.2 - Igualmente redescobrimos que a missão abarca todas as necessidades de vida das pessoas bem como de toda a criação. Falamos, portanto, em dimensão holística da missão. A alternativa entre missão pela palavra ou missão pela ação diaconal devemos ter como superada. Palavra e ação não se excluem, nem podem ser colocadas em seqüência prioritária. Muito antes, ambas necessitam uma da outra. Elas se mesclam e se complementam mutuamente, visando à salvação integral em nível pessoal, sócio-estrutural, bem como cósmico. Segundo o evangelista Mateus, a missão se resume no peregrinar pelas vilas e cidades ensinando, pregando e curando (Mt 4.23; 9.35). De fato, Jesus viu as multidões e delas se compadeceu (Mt 9.36).

... 4 – Dificuldades e clamores

De outra parte, em meio aos sinais de esperança, também é forçoso e igualmente evangélico reconhecer e confessar que temos fraquezas e, inclusive, tensões internas que preocupam um número crescente de membros e comunidades de nossa igreja. Nesse sentido, queremos compartilhar alguns dos clamores que têm sido manifestados verbalmente ou por carta:

» obreiras/os e líderes manifestam grande preocupação com a mentalidade de igreja-supermercado – paga-se o mínimo possível para cobrar o máximo de atendimento;

» membros se queixam da liturgia não envolvente e dos hinos difíceis;

» jovens afastam-se da vida comunitária por considerá-la monótona ou desatualizada;

» membros queixam-se da falta de maior uniformidade litúrgica em cultos e ofícios;

» membros expressam seu mal-estar quando ocorrem excessos em festas da comunidade;

» outros criticam que o obreiro ou a obreira mandou tirar do templo todos os símbolos;

» membros estranham que o/a pastor/a preside cultos e ofícios sem vestir o talar ou adota o traje típico de pregadores pentecostais;

» membros percebem, com profunda preocupação, que o/a pastor/a procura imitar, desajeitadamente, pregadores de sucesso de igrejas neo-pentecostais;

» outros membros expressam sua desconformidade com a aceitação de manifestações mediúnicas na IECLB;

» vizinhos do centro comunitário queixam-se do barulho no culto e da extensão do mesmo até altas horas da noite;

» membros inconformados com a “pentecostalização” do culto afastam-se, ostensiva ou silenciosamente, da comunidade;

» exige-se que a igreja excomungue anabatistas e exorcistas, estabelecendo normas claras para a vida comunitária e criando monitoramento (mecanismos de cobrança).

Tais queixas e clamores – e outros mais, não mencionados aqui – parecem indicar uma crescente sensação de que a IECLB seria um barco à deriva, sem comando, em que cada qual se dá o direito de fazer suas próprias tentativas de levá-lo adiante. Como quer que seja, todos eles devem ser analisados com muita seriedade, à luz do testemunho bíblico-confessional. Dessa maneira o Espírito Santo poderá transformar as dificuldades e os clamores em bênção para a Igreja.

... 5.5 - Referente ao culto, deve ser lembrado que não é a comunidade que presta culto a Deus, mas é Deus que no culto serve a ela (por meio da palavra, do perdão, da comunhão, dos sacramentos e da bênção). Culto, portanto, é a celebração das misericórdias de Deus que convergem na obra salvífica de Cristo. O Espírito Santo faz buscar e abraçar o santo serviço de Deus em nosso favor. A comunidade, assim agraciada, responde a Deus com louvor e adoração e a ele serve, com todo o seu ser, no mundo em que vive (Rm 12.1). Desse princípio trinitário do culto decorrem os seguintes elementos universais constitutivos do culto cristão luterano: intróito (entrada: invocação, Salmo ou palavra bíblica de entrada), confiteor (confissão de pecados), palavra, ofertório (credo, oferta, intercessão), sacramento, envio e bênção.

... 5.7 - A vestimenta litúrgica também tem caráter simbólico. Ela não depende do gosto ou direito de um/a obreiro/a ou de uma comunidade individualmente, mas sua forma e seu uso são regulamentados pela IECLB como um todo. O talar, por exemplo, na cor preta ou a alba na cor clara (bege) com suas estolas nas cores do tempo litúrgico, são aceitos pela IECLB. Essa vestimenta litúrgica identifica a pessoa como obreiro/a pastoral que a IECLB ordenou para o exercício público do ministério pastoral, em âmbito nacional e internacional. Legitima e protege a pessoa em âmbito público. Ao mesmo tempo, a vestimenta litúrgica compromete o/a obreiro/a com a IECLB em âmbito ecumênico, identifica a sua identidade confessional luterana. Esses são os aspectos afirmativos simbolizados pelo sinal verde do semáforo.

Não é admissível, portanto, que um/a obreiro/a ou uma comunidade dispense arbitrariamente, em celebrações públicas, o uso do talar, substituindo-o por traje civil. Ao contrário, seu uso está claramente prescrito nos regulamentos da IECLB, que todo/a obreiro/a em sua ordenação promete observar.

... 6 - Movimentos a serviço da missão que Deus realiza através da Igreja

6.1 - A IECLB pode agradecer a Deus pelos movimentos ou pelas entidades que tem, ou seja, Missão Evangélica União Cristã, Movimento Encontrão, Pastoral Popular Luterana, Comunhão Martim Lutero. Eles são manifestação de vida, sinal da ação do Espírito Santo.

6.2 - Movimentos sinalizam que algo na igreja está necessitado, carente, insuficiente, negligenciado, esquecido ou simplesmente mal. Eles são uma reação, uma tentativa de reforma e complementação. Cabe à igreja olhar, escutar e decodificar o recado que está sendo dado. Ela deve ter liberdade e vontade de incorporar, de maneira crítica, criativa e responsável, o novo que se apresenta. Nesse processo, certamente deverá acontecer uma releitura da própria identidade confessional. Certamente teremos de redescobrir a dimensão do Espírito Santo, tanto em sua dimensão consoladora e sanadora, como admoestadora e transformadora.

6.3 - O movimento, por sua vez, deverá admitir ser ele mesmo questionado, por parte da igreja e seus órgãos constituídos, com vistas a sua identidade confessional, e estar disposto a reavaliar permanentemente suas propostas. Também deve reconhecer e assumir o seu lugar de entidade e movimento dentro e sob a igreja. Particular cuidado deverá ter quando ele próprio se institucionaliza. Não deve almejar ser “igreja dentro da Igreja”. Tampouco deve pretender assumir o papel de direção da igreja arvorando-se o direito de decidir questões administrativas da igreja, nem instrumentalizar as comunidades para finalidades exclusivas do próprio movimento. Ao contrário, o movimento deve entender-se como estando a serviço da igreja como um todo. Será uma bênção somente à medida em que servir, humildemente, por meio dos seus dons aprimorados, ao testemunho e à missão que Deus realiza através da igreja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário